sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Superclásico:
River Plate-Boca Juniors, 2-0



Índice:

1. As equipas - River Plate
2. As equipas - Boca Juniors
3. O jogo: Pressão millionaria - a importância do 5.º elemento
4. O jogo: Aposta no jogo directo perante a impotência na transição
5. O jogo: O perigo da transição rápida desaproveitada pelo Boca Juniors
6. O jogo: A liberdade de Ortega e o posicionamento de Belluschi
7. O jogo: Irreverências - A ténue linha entre ganhar e perder
8. O jogo: Risco de Russo anulou resposta
9. Os jogadores - River Plate
10. Os jogadores - Boca Juniors
11. Estatísticas

Publicação conjunta com Livre Indirecto

1. AS EQUIPAS - RIVER PLATE.

Daniel Passarella tinha a equipa praticamente na máxima força para este jogo. O chileno Alexis Sánchez há muito que estava lesionado, mas de entre os jogadores mais utilizados, não havia impedimentos. Ainda assim, o técnico decidiu dar oportunidade ao jovem Diego Buonanotte. Com apenas 19 anos, o jogador esquerdino tinha participado apenas em dois jogos até então.

Com Buonanotte no meio-campo, o sacrificado acabou por ser o avançado Marco Ruben. Passarella preferiu jogar apenas com Radamel Falcao na frente de ataque, jogando Ariel Ortega como segundo avançado, embora com principais responsabilidades a nível do meio-campo e da construção de jogo.

De resto, destaque ainda para a aposta de Juan Pablo Carrizo na baliza. Chegado há pouco tempo da Lazio, por causa de um imbróglio na transferência para Itália, o guarda-redes não estava a ter sorte e tinha 11 golos sofridos em três jogos, tantos como Ojeda, contudo, Passarella quis apostar na experiência de Carrizo em Superclásicos, onde no ano passado tinha estado muito bem.

Assim sendo, o River surgiu em campo com um 4x4x1x1: Carrizo na baliza, Ferrari e Leo Ponzio nas laterais, Tuzzio e Nicolas Sánchez no eixo da defesa; Ahumada à frente da defesa, Augusto Fernández pela direita, Buonanotte pela esquerda, Belluschi no meio atrás de Ortega e Falcao na frente.

2. AS EQUIPAS - BOCA JUNIORS.

Os xeneizes entravam com grande responsabilidade no Monumental. No ano anterior não tinham ganho nenhum clássico e, ao contrário do River Plate, estão ainda na luta pelo título do Apertura. Uma derrota poderia deixar o Independiente a cinco pontos, por isso Miguel Russo não surpreendeu e colocou o melhor onze em campo.

Desta forma, com Rodrigo Palacio completamente recuperado, a dupla no ataque foi aquela que melhores resultados tem dado nos últimos tempos. A mobilidade do ex-Banfield é um dos maiores trunfos dos xeneizes para actuar ao lado de Palermo, embora esta época tenha apenas dois golos. Palermo, por seu turno, continua com a veia goleadora no máximo e é o melhor marcador da equipa com sete golos.

No meio-campo, Leandro Gracián era o jogador mais experiente por um lado (25 anos), mas também aquele que há menos tempo está no clube. Pablo Ledesma, jogador com grande maturidade para a idade que tem (23) era o pêndulo no eixo do terreno, juntamente com Banega. Gracián dividia a tarefa criativa com Neri Cardozo, um grande tecnicista, mas que este ano não tem estado tão bem como nos campeonatos anteriores, especialmente com o aparecimento de Gracián e a confirmação de Jesus Dátolo.

O Boca Juniors apresentou-se então com um 4x4x2 bastante desdobrável, já que Gracián actuava pelo meio à frente de Banega e Ledesma e Neri Cardozo surgia preferencialmente pelo lado esquerdo. A ala direita ficava abandonada à espera que Ibarra subisse pelo terreno. De resto, Caranta foi o guarda-redes escolhido, sem qualquer surpresa e o resto do quarteto era composto pelo paraguaio Morel Rodriguez na esquerda e Maidana e Paletta no meio-campo.

3. O JOGO: Pressão millionaria - a importância do 5.º elemento



Como se esperava, o River Plate começou o jogo a controlar e instalando-se no meio-campo adversário. No entanto, o inesperado foi a forma como o Boca Juniors não conseguia reagir. O meio-campo do River Plate surgia a pressionar muito à frente no terreno, evitando que o adversário conseguisse ultrapassar a linha do meio-campo com a bola controlada, conseguindo os millionarios recuperar inúmeras bolas no meio-campo ofensivo.

Porquê? Porque o meio-campo do River conseguia anular todas as formas de transição do Boca. Ahumada anulava Gracián, Buonanotte e Augusto Fernández anulavam as hipotéticas subidas dos laterais à vez. Quando um estava na lateral, o outro flectia para o centro e, juntamente com Ortega e Belluschi criavam superioridade sobre Ledesma e Banega. Então e Cardozo? Tal como falei no ponto 2, Cardozo surgia preferencialmente pela esquerda e não recuava o suficiente para o auxílio na construção de jogo. Encostado à linha, era presa fácil para a marcação de Ferrari.

4. O JOGO: Aposta no jogo directo perante a impotência na transição

Incapazes de conseguir levar o jogo com a bola controlada para o ataque, o Boca Juniors começou a optar por solicitar directamente Palermo e Palacio. No entanto, a defesa do River Plate não só estava em superioridade numérica, como estava num dia de grande concentração e organização defensiva.

Estávamos numa situação de quatro para três. Ferrari, Tuzzio, Sánchez e Ponzio tinham a incubência de segurar Cardozo, Palermo e Palacio. Se Cardozo estava desinsipirado, restava anular as acções dos dois avançados. Para os dois avançados havia duas formas de jogar. Palacio apostava na grande mobilidade e velocidade, surgindo ora na direita, ora na esquerda, enquanto Palermo era uma referência mais fixa na frente, capaz de disputar os lances aéreos com os adversários.

Resumindo, Palacio procurava as desmarcações diagonais nas costas da defesa, conseguindo maior sucesso quando caía no lado esquerdo, já que Ferrari tinha de dividir a marcação com Cardozo. No lado contrário, Ponzio era um jogador que não tendo adversário directo, serviria como elemento de superioridade numérica.

Já Palermo recebia as bolas directamente, recolhendo no terreno para desviar de cabeça para as entradas de Cardozo e Palacio. De facto, quando a bola era lançada para a cabeça de Palermo, notava-se a preocupação imediata de Cardozo e Palacio em aparecer nas costas do avançado.

5. O JOGO: O perigo da transição rápida desaproveitada pelo Boca Juniors

A pressão exercida pelo meio-campo do River Plate tolheu a capacidade de criatividade do Boca Juniors, mas deve ter afectado também o raciocínio de Miguel Russo. O problema do River Plate no campeonato tem sido principalmente o espaço que a defesa dá para o meio-campo, bem como a lenta recuperação em lances de contra-ataque. Os quatro golos sofridos contra Tigre e Argentinos Juniors comprovam-no.

Das poucas vezes que Gracián, Ledesma ou mesmo Ibarra conseguiam ultrapassar o adversário e entrar no meio-campo adversário criava-se uma situação de apuros para a defesa millionaria. No entanto, dois factores impediram o Boca Juniors de ter resultados práticos. Primeiro, a incapacidade de percepção dessa vantagem e a insistência em optar pelo futebol directo e desapoiado. Segundo, a fraca eficácia de último passe aliada à concentração e capacidade de antecipação da defesa do River Plate.

Os 20/25 metros entre a defesa e o meio-campo era propícia ao ataque rápido/contra-ataque, mas a equipa nunca esteve montada para tal. Cardozo estava escondido na esquerda e todo o meio-campo estava condicionado pelo ímpeto que o River Plate deu ao jogo.

6. O JOGO: A liberdade de Ortega e o posicionamento de Belluschi



Ao colocar Ortega como "segundo avançado", Passarella estava a dar ao Burrito a hipótese de decidir a partida, caso este assim o quisesse. E quis. Ortega jogou nas suas sete quintas, deambulando pelo meio-campo e pelas alas sem preocupações excessivas. Aliado à fenomenal capacidade técnica do "10", estava meio caminho andado para a vitória. Foi a maior dor de cabeça para os xeneizes: capaz de encontrar formas de sair de pressão e espaços onde não pareciam existir, Ortega não só resolvia como maravilhava os adeptos.

Por outro lado, o posicionamento de Belluschi também foi evoluindo. A equipa estava tão adiantada que quase não era necessário haver alguém no eixo. Ortega tratava de o fazer, juntamente com Ahumada que, apesar de discreto durante todo o encontro, funcionava como a perfeita cobertura ofensiva para virar a direcção do ataque. Assim, Fernando Belluschi actuava muito descaído para o lado esquerdo, quase que em cima de Buonanotte. Não só o jovem tinha mais apoio, como Ibarra estava condenado a não conseguir sair para o ataque. De resto, era Belluschi quem aparecia na cabeça-da-área para a segunda bola.

7. O JOGO: Irreverências - A ténue linha entre ganhar e perder

Irreverência e juventude estão, na maior parte das vezes, de mão dada. Tanto de um lado como do outro, havia dois jovens que partilhavam estes atributos: Diego Buonanotte e Ever Banega. No entanto, tiveram grandes diferenças de desempenho nesta partida.

Buonanotte era a grande surpresa no onze do River Plate. Estreava-se num jogo de tão grande importância e nem era um habitual na equipa. No entanto, soube aproveitar a motivação e a irreverência para arrancar para uma excelente partida. Sem ser fisicamente forte, Buonanotte evidenciou excelentes capacidades no 1x1, dificultando em muito a marcação de Ibarra. Considerado como um novo Messi pelos adeptos do River, Buonanotte saiu durante a segunda parte fortemente aplaudido pelo estádio.

Ever Banega já não é propriamente uma surpresa, nem tão pouco uma revelação. Desde que Fernando Gago saiu para Madrid, foi Banega quem foi "obrigado" a pegar na herança. Campeão mundial no Canadá, Banega tem uma característica que o torna "não tão bom jogador". A impetuosidade e a imprudência. Frequentemente amarelado, Banega condiciona durante a primeira parte o resto das exibições. Frente ao River, viu o primeiro amarelo aos 20 minutos ao fazer uma falta dura na sequência de uma perda de bola infantil.

Amarelo escusado, especialmente tendo em conta que quando foi mesmo obrigado a fazer uma falta útil...acabou expulso. Provavelmente, a derrota seria certa na mesma, mas retirou capacidade de reacção ao Boca Juniors na segunda parte.

8. O JOGO: Risco de Russo anulou resposta

Para a segunda parte, Russo corrigiu a expulsão de Banega com a entrada de Battaglia para o lugar de Gracián. Desta forma, Battaglia jogava mais recuado, com Ledesma, numa primeira fase, e Neri Cardozo a tratarem do meio-campo ofensivo. Ou seja, Russo mexeu no meio-campo, mas mantave o ataque inalterado.

Este terá sido, porventura, um grande erro. Russo não fez mais que manter o mesmo esquema da primeira parte que tão bem o River Plate estava a anular, mas com uma diferença... menos um jogador no meio-campo. Assim, não foi surpresa nenhuma a forma como o River Plate se limitou a controlar os segundos 45 minutos, sem que o Boca Juniors conseguisse criar jogadas de perigo, pondo em causa o vencedor da partida.

9. OS JOGADORES - RIVER PLATE

ARIEL ORTEGA (5). O melhor jogador em campo. Teve a liberdade que pretendia para fazer tudo e mais alguma coisa. Imparável no 1x1, visão de jogo sobrenatural e excelente capacidade de passe. Foi o Ortega dos velhos tempos que surgiu no Monumental, para gáudio dos millionarios.

JP Carrizo (3). Mereceu a aposta de Passarella. Apesar de ter sofrido 11 golos nos três jogos anteriores, Carrizo esteve seguro durante toda a partida, conseguindo anular perfeitamente as (poucas!) ocasiões de remate que o Boca Juniors teve.

Paulo Ferrari (3). Teve Neri Cardozo pela frente durante grande parte do encontro e apenas sentiu dificuldades quando Palacio surgir no seu raio de acção ou quando Morel Rodriguez subiu. Ainda assim, exibição muito segura.

Nicolás Sánchez (4). Esteve simplesmente inultrapassável, juntamente com o companheiro da defesa. Palacio e Palermo foram uma das melhores duplas de avançados na Argentina, mas para Sánchez foi fácil. Muita concentração e capacidade de antecipação resolveram as coisas.

Eduardo Tuzzio (4). Tal como Sánchez. A concentração e a antecipação serviram de remédio para parar a dupla do Boca Juniors. Perante o possante Palermo, Tuzzio recorreu à experiência para anular o perigo. Com sucesso.

Léo Ponzio (2). Se não comprometeu a defender, até porque raramente tinha alguém para marcar, também não esteve por ai além em funções ofensivas. Limitou-se a cumprir.

Óscar Ahumada (2). O elemento do meio-campo mais discreto. Não esteve mal, mas poderia ter estado melhor. Conseguiu passar quase todo o encontro sem se dar por ele, e poderia ter ajudado a tornar a equipa mais coesa, dada a distância entre defesa e meio-campo.

Augusto Fernández (1). É pretendido pelo Real Madrid, mas fez um jogo muito, muito apagado. Ofuscado por Buonanotte, o lado direito só ganhou expressão quando Ortega surgiu nas imediações.

Fernando Belluschi (4). Esteve bem. Não tem tido a época que esperava, mas no Superclásico cumpriu em pleno. Perigoso a atacar, conseguiu ser o suporte de Buonanotte e um dos grandes responsáveis pela anulação de Ibarra.

Diego Buonanotte (4). Era a grande incógnita no onze titular, mas correspondeu bem e com brilho. Deixou Ibarra com a cabeça em água, perante a velocidade de movimentos e execução. Forte tecnicamente, ganhou a grande penalidade para o segundo golo do encontro.

Radamel Falcao (4). Voltou a ser um dos heróis millionarios. Botafogo, Rosario Central e Boca Juniors. O jovem colombiano parece talhado para os jogos em casa. Sozinho na frente, chegou para importunar e prender os dois centrais. O primeiro golo é, acima de tudo, um pontapé de raiva de quem sabia que ia deixar milhares de espectadores em delírio.

Matías Abelairas (1). Entrou durante a segunda parte para o lugar do desinspirado Fernández. O jogo estava controlado e não precisou de "entrar" no jogo.

Andrés Rios e Mauro Rosales (0). Entraram nos minutos finais para permitir as homenagens a Buonanotte e Ortega.

10. OS JOGADORES - BOCA JUNIORS.

MOREL RODRIGUEZ (3). Teve a vantagem de apanhar Augusto Fernández desinsipirado. Ao contrário de Ibarra, esteve sempre mais solto a sair para o ataque. Tentou apoiar Cardozo ao máximo e sacou vários cruzamentos. Não esteve mal o paraguaio.

Mauricio Caranta (3). Não podia fazer melhor. Esteve bem nos lances de bola parada, seguro a sair dos postes e nada podia fazer nos golos sofridos. E na grande penalidade ainda defendeu o primeiro remate de Ortega.

Hugo Ibarra (2). Tem experiência de jogador. Capitão do Boca Juniors e já disputou uma final da Liga dos Campeões, mas com um jovem de 19 anos pela frente tremeu. Buonanotte e Belluschi não lhe deram liberdade para subir no terreno como gosta de fazer.

Jonathan Maidana (2). O River Plate surgiu apenas com um avançado, mas nem assim os centrais do Boca conseguiram anulá-lo. Falcao esteve sempre melhor, mais rápido e mais activo. Mais um na mediocridade da exibição colectiva.

Gabriel Paletta (1). Tudo o que se diz de Maidana aplica-se a Paletta. Estreava-se nestas andanças e não foi capaz de afastar o nervosismo. A entrada fora de tempo a Buonanotte era completamente escusada, mas deu penálti. Para esquecer.

Ever Banega (0). Exibição para esquecer. Não conseguiu segurar o meio-campo, não conseguiu criar as jogadas de ataque e não soube controlar o ímpeto. Amarelo aos 20 minutos e aos 45'+2 fizeram-no sair mais cedo do campo. Culpa de Russo que o manteve tanto tempo em campo depois do primeiro amarelo.

Pablo Ledesma (1). Tem sido dos melhores jogadores durante a época, mas viu-se entregue à superioridade do meio-campo do River Plate. Poucas foram as vezes que se conseguiu libertar.

Leandro Gracián (1). Era dele a responsabilidade de criar as jogadas de ataque do Boca Juniors, mas nunca esteve ao nível da tarefa. E quando Russo teve de tirar alguém do meio-campo não teve dúvidas.

Neri Cardozo (1). Numa primeira fase escondeu-se demasiado na linha do lado esquerdo. Perante a incapacidade de Banega e Gracián, começou a recuar mais para pegar no jogo. Inconsequente também.

Rodrigo Palacio (2). Foi dos mais inconformados no ataque. Não estava muito insipirado, mas ao menos deu trabalho à defesa com as constantes desmarcações.

Martín Palermo (1). Foi presa fácil. Não teve qualquer oportunidade de golo e esteve sempre desapoiado. Um avançado com estas características precisa de ter os médios por perto, mas isso nunca aconteceu.

Sebastian Battaglia (1). Entrou para equilibrar o meio-campo depois da expulsão de Banega. O River nunca acelerou e Battaglia não comprometeu. Não poderia fazer mais.

Alvaro González (0). Dez minutos em campo no lugar de Cardozo. Pode dizer que jogou e acompanhou de perto os "olés" que ecoavam das bancadas.

11. AS ESTATÍSTICAS.

Mais velhos: Ariel Ortega e Martin Palermo (33 anos)

Mais novos: Andrés Rios (18) e Ever Banega (19 anos)

Média de idades no onze titular: River Plate (24,54 anos);
Boca Juniors (25,45 anos)

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